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Da prensa de Gutenberg ao ChatGPT de Musk e companhia, se existe uma profissão que tem absorvido impactos significativos ao longo da história esta é o jornalismo. Com o avanço das tecnologias ao longo das décadas, a indústria de notícias tem passado por grandes transformações, abrindo novas possibilidades e desafios na produção de notícias.

Em maio de 2020 muita gente se assustou quando o jornal The Guardian comunicou que o site MSN trocou quase metade de seus jornalistas por sistemas de inteligência artificial (IA) para escreverem matérias para seus milhões de usuários que acessavam a plataforma diariamente. De lá para cá, tal acontecido tem se provado não fazer parte apenas de um fato isolado que acabe na Justiça do Trabalho ou em síndrome de burnout, mas sim de algo que se tornará mais corriqueiro do que parece.

Automação vs Inteligência Artificial

Apesar de haver uma histeria coletiva em torno das novas ferramentas de IA fruto de investimentos bilionários de empresas como Google e Microsoft, não há ainda uma compreensão muito clara do que é automação e inteligência artificial. Ambas, embora relacionadas, são ao mesmo tempo, distintas. Enquanto a automação refere-se ao uso de máquinas e sistemas para realizar tarefas ou processos sem intervenção humana de maneira direta, a inteligência artificial envolve sistemas ou máquinas capazes de aprender, adaptar-se e tomar decisões com base em dados. A automação é tipicamente baseada em regras predefinidas e não possui capacidade de aprendizado ou mesmo adaptação; ao passo que a IA é capaz de aprender com dados e experiências passadas, adaptando-se a novas situações e tomando decisões com base na análise de informações.

Embora a IA seja encarada por muitos como uma tecnologia futurística distópica (algo como no filme de Steven Spielberg – A.I. Artificial Intelligence, 2001), as ferramentas dotadas com essa tecnologia podem ser aplicadas no processo de investigação e produção de conteúdos em diversos braços da comunicação. Desse modo, é fundamental que os profissionais da comunicação, sejam eles jornalistas, escritores, radialistas, entre outros, não se excluam do atual processo de transformação que a profissão está atravessando. Afinal, ao longo dos séculos, o jornalismo tem demonstrado uma incrível capacidade de assimilar as tecnologias emergentes.

Transformações ao longo dos anos

Imagine: antes da invenção de Johannes Gutenberg, os livros eram copiados à mão, o que tornava o processo lento e extremamente caro. Com sua invenção chamada “prensa de tipos móveis” foi possível disseminar o conhecimento filosófico/científico e produzir de maneira rápida e eficiente uma grande quantidade de livros, como a “Bíblia de Gutenberg” ou “Bíblia de 42 linhas”.

No século 19, o desenvolvimento do telégrafo possibilitou a rápida transmissão de notícias a longa distancias, o que viabilizou a entrega de notícias em tempo real e a criação de ‘agências de notícias’ ao redor do mundo. Ainda no século 19, a invenção da fotografia trouxe um ganho visual às notícias, permitindo que as imagens acompanhassem os relatos jornalísticos criando assim mais impacto nos leitores.

O rádio, que se popularizou no século 20, e a televisão, que se tornou mídia predominante nas décadas de 1950 e 1960, trouxeram a notícia para dentro das casas das pessoas, proporcionando uma experiência imersiva/visual.

A internet, em conjunto com as mídias sociais, revolucionou o jornalismo ao permitir a distribuição instantânea de notícias online. As mídias sociais, em particular, deram voz a uma gama mais ampla de pessoas e permitiram a entrega de conteúdos noticiosos de forma descentralizada.

O papel da IA no jornalismo

Atualmente, a inteligência artificial tem o potencial de revolucionar mais ainda o jornalismo de diversas maneiras. A primeira delas é a capacidade de processar um volume enorme de dados de forma extremamente rápida e eficiente. Algoritmos de IA são capazes de identificar padrões e analisar informações para apoiar a pesquisa jornalística e o processo de escrita da notícia.

Como exemplo, imagine que um jornal tradicional, que possui em sua base de dados todo seu acervo de jornais impressos de várias décadas, queira fazer uma matéria sobre quantas vezes seu jornal noticiou incêndios. Evidente que seria inviável montar uma equipe para fazer esse levantamento, já que esse processo duraria semanas ou mesmo meses. Por outro lado, algoritmos de IA fariam esse trabalho em minutos.

Além disso, a IA também pode ser aplicada na automação de tarefas repetitivas , como a transcrição de áudios e a tradução de textos. Essas ferramentas automatizadas podem economizar tempo e recursos, permitindo que os jornalistas se concentrem em tarefas mais complexas ou criativas.

As empresas de comunicação também estão usando IA para otimizar a distribuição de notícias. Algoritmos de IA podem analisar o comportamento dos usuários e prever quais notícias são mais propensas a serem compartilhadas e visualizadas, permitindo que as empresas direcionem sua estratégia de distribuição de forma mais eficiente.

Desafios éticos

No início de 2023, o site CNET, conhecido por abordar temas da área da tecnologia, teve problemas ao publicar conteúdos gerados totalmente pelo ChatGPT, sem comunicar seus leitores. Certo ou errado?

Embora se saiba que a IA traga benefícios significativos para o exercício do jornalismo, também levanta questões éticas preocupantes para a profissão. Talvez a principal delas seja relacionada à imparcialidade. A IA pode perpetuar vieses e preconceitos existentes nos dados utilizados para treinar seus sistemas de aprendizado. Outra questão importante que preocupa no uso da IA é a propriedade intelectual, já que sistemas dotados de inteligência artificial podem apreender o estilo/escrita de determinado autor ou mesmo usar trechos de obras protegidos por direitos autorais etc.

É fundamental que as empresas de comunicação e os jornalistas estejam cientes desses desafios éticos e trabalhem para mitigar os vieses nos sistemas de IA. Isso envolve a coleta e utilização de dados mais diversificados, a revisão constante dos algoritmos e a adoção de práticas transparentes que possibilitem a compreensão do funcionamento dos sistemas de IA pelos leitores.

O futuro do jornalismo com IA

O uso da IA na comunicação, mais especificamente no jornalismo, está em constante evolução e promete transformar mais ainda o setor. Enquanto as tecnologias dotadas de IA continuarem a evoluir, é importante que as redações estejam preparadas para enfrentar desafios e aproveitar oportunidades que essas novas tecnologias trarão.

No entanto, é fundamental que os jornalistas continuem exercendo seu papel de gatekeepers, avaliando e verificando as informações geradas por algoritmos. A contextualização, a capacidade de equilibrar fontes e a ética jornalística são elementos essenciais que não podem ser substituídos pela IA. A habilidade humana de análise crítica, investigação aprofundada e narrativa continuam sendo abordagens que só o jornalista de carne e osso pode ter.

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